Foto: Davi Negri
Na
primeira parte das oitivas ocorridas na quinta-feira passada, 15/09, a CPI
ouviu o atual diretor de Operação e Manutenção do SEMAE.
Duas oitivas foram realizadas esta semana no Plenário Francisco Antonio Coelho.
A CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) que investiga possíveis irregularidades no Semae
(Serviços Municipal de Água e Esgoto) ouviu na manhã de quinta-feira (15), na
primeira parte da oitiva ocorrida no plenário da Câmara Municipal, ao engenheiro
Pedro Caes, servidor aposentado da autarquia e seu atual diretor de Operação e
Manutenção.
Presidida
pela vereadora Rai de Almeida (PT), com relatoria do vereador Anilton Rissato
(Patriota) e tendo como membro o vereador Thiago Ribeiro (PSC), a CPI inqueriu
ao depoente sobre diversas questões que envolvem todo o funcionamento do
sistema de abastecimento de água na cidade, com foco no problema da ocorrência
diária de falta d’água em muitos bairros do município e os motivos que levam a
essas ocorrências.
Dentre as causas apresentadas
para a falta d’água em diversas localidades da cidade, o depoente inicialmente
apontou que Piracicaba não tem uma represa ou reservatório que garantam um
volume de água necessário para o abastecimento completo quando os rios –
especialmente o Corumbataí – sofrem com baixa vazão. “Não temos uma represa.
Não temos como fazer racionamento. Se secar o rio, não tem água na cidade.
Diferente de outras cidades, em cidades como Piracicaba e Rio Claro se secar o
rio Corumbataí essas cidades vão ficar sem água”, disse.
O depoente destacou também que,
somado à crise hídrica, o problema da falta d’água em Piracicaba está centrado
na falta de estrutura do sistema para a distribuição de água – uma vez que a
cidade teve um crescimento expressivo para além do que se previa em seu Plano
Diretor, em 2010.
Segundo
o depoente, novas obras não foram executas para suprir essa necessidade –
apesar da ampliação de algumas adutoras e da compra de tubos que ainda estão
aguardando projetos e aporte financeiro.
“O Plano Diretor de 2010
previa, por exemplo, 12 quilômetros de adutora do Capim Fino para a avenida
Cássio Pascoal Padovani. Essa obra não foi feita. Ele previa do Capim Fino para
Santa Terezinha, outra adutora. Também não foi feito. Previa a do [bairro] Dois
Córregos e mais 56 quilômetros de adutoras, mas não foi feito”, disse Pedro
Caes, exemplificando o fato de que a falta de investimento nas adutoras implica
também, hoje, na crise no sistema de abastecimento de água nos bairros.
O depoente sinalizou que a
falta de recursos no Semae inviabilizou a ampliação de reestruturação das
adutoras – e informou que, no final de 2019, foram até comprados “tubos, mas
como não tínhamos projetos eles foram comprados baseados no Plano Diretor”,
disse. “Esses tubos estão guardados. Bem protegidos”, comentou Caes. “Dá para
fazer. Mas o Semae hoje não tem condição para fazer essa licitação. O caixa
está no limite para folha de pagamento e dia a dia”, completou ele.
FALTA DE
INVESTIMENTO - Ao ser questionado sobre
os motivos que levaram ao Semae não possuir os recursos necessários para
investimentos básicos no sistema, o depoente afirmou que nas gestões anteriores
houve “problemas de planejamento,” e que “tivemos a crise hídrica que derrubou
muito a arrecadação [do Semae]. Tivemos a suspensão de um reajuste que, depois,
o Semae consegui reverter em São Paulo, mas que atrasou e teve um custo
financeiro muito grande.”
Em relação ao caixa atual,
afirmou o depoente que “isso teria de ser visto com o financeiro [o motivo da falta
de recursos]”. O problema com a falta de recursos, todavia, e ainda de acordo
com o depoente, já informado por ele quando da transição política do ano de
2016 e também na de agora também. “Eu apontei. A administração atual está vendo
como reverter isso".
FRAUDES E
FURTOS - Corroborando a afirmação dos
parlamentares da CPI, o depoente também entende que o furto de água e o chamado
“parcelamento irregular” do fornecimento que acontece em muitas regiões da
cidade [furtos de água feitos por meio de desvios e outros] também implicam no
problema de falta d’água em Piracicaba. “Tem muita fraude na cidade. E aumentou
muito durante a pandemia. Só que as fraudes é a Mirante que tem de combater”,
afirmou o depoente. “O Semae começou também [o combate às fraudes]. Mas, por
força de contrato, é a Mirante [que tem de fazer isso].” E complementou o
depoente: “é água consumida por alguém e que não está registrando”.
CRISE - Diante do depoimento de Pedro Caes, os parlamentares
demonstraram preocupação em relação ao fato de que a falta de recursos do Semae
pode vir a inviabilizar completamente o sistema – e que, em vista disso, “é
necessário salvar o Semae, recuperando sua capacidade financeira e garantindo
sua autonomia de empresa municipal”, afirmou a vereadora Rai de Almeida.
SEGUNDA OITIVA
DO DIA - A segunda oitiva realizada
nesta quinta-feira ouviu o engenheiro civil Gilberto Fernandes Pissinato,
servidor responsável pela parte de obras do Semae. O depoente foi chamado à CPI
para responder aos parlamentares acerca das atividades executadas pelo setor de
obras da autarquia – passando, nesse sentido, pelo painel referente a novos
empreendimentos e possíveis projetos de expansão da rede.
Ao ser perguntado se considera
que a “Mirante” trata, de fato, 100 por cento do esgoto da cidade, o depoente
revelou certa hesitação e dúvida – uma vez que há ainda tanto por fazer em
tantos loteamentos e demais localidades do município. “Sobre os 100% que o
Semae declara? Esse 100% é complicado... Ele deve estar próximo disso, mas não
sei se representa isso. Na gestão passada a ideia é que politicamente tinha de
ter essa informação passada. Mas não sei se chega a isso. O esgoto é tratado.
Mas tem problema”, afirmou o depoente, apesar de reconhecer não ser essa
exatamente a sua área de atividade específica dentro da empresa.
Questionado também sobre se
entende que as isenções dadas a órgãos públicos e demais entidades prejudicam a
arrecadação do Semae, o engenheiro disse acreditar que sim. “É lógico que
interfere. Mas não sei falar. Não é a minha área. Você oferece um produto
gratuito que é trabalhado. Alguém tem de pagar por isso.”
O
depoente também foi questionado sobre se sabe ser recorrente o desligamento –
via corte de energia – do sistema de tratamento de esgoto à noite. Aos
parlamentares, o engenheiro afirmou desconhecer esse fato e disse que quando a
energia é cortada isso pode acarretar em um extravasamento do esgoto no sistema
– e que os serviços decorrentes desse extravasamento podem ser conferidos e
consultados via ordem de serviço.