Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana de Piracicaba
Madre Cecília, carinhosamente chamada
de mamãe Cecília, tem uma longa, bela e inspiradora trajetória de vida cristã. Viveu
intensamente o sagrado dom da vida, em uma experiência existencial profundamente
singular, que fez de sua vida missão e vocação, dando um significado pleno e
elevado ao termo mãe.
No contexto bíblico, expressando a
profunda mentalidade judaica, cada nome revela uma missão sagrada. Jesus
(Yeshua), em hebraico, significa Salvador. Maria (Miriam), significa Senhora,
Soberana. Em um profundo sentido teológico, de maneira análoga à cultura
bíblica, uma chave de leitura da vida de Mamãe Cecília consiste em se aproximar
dos nomes que ela foi assumindo no decurso de sua trajetória histórica. Nomes
que revelam também uma sagrada missão.
Sob o nome de Antônia Martins de
Macedo, Mamãe Cecília fez, em sua juventude, a experiência dos votos
matrimoniais, tendo a oportunidade de viver a realidade de ser mãe de três
filhos – dois meninos e uma menina. O senso ético de dever e responsabilidade,
nas exigências maternas de cuidar e educar, sempre guiaram a vida familiar da companheira
e mãe Antônia.
A nostalgia de Deus, o irresistível
convite vocacional para seguir a Jesus Cristo bem de perto, no ideal da vida
consagrada, sempre calou profundamente no coração da jovem Antônia. Ainda como
mãe e cuidadora, ao ficar viúva, Antônia, ao ingressar na Ordem Franciscana
secular, torna-se Irmã Cecília do Coração de Maria, abraçando a sua vocação à
vida consagrada.
Assumindo o nome de missão, o
simbólico nome de consagração, Irmã Cecília do Coração de Maria, no dia 30 de
setembro de 1900, Madre Cecília, passando a compartilhar a vida com outras seis
jovens, acaba dando origem à Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de
Maria. Diante de uma sociedade cega e indiferente, Irmã Cecília compreendeu que
sua grande missão seria revelar o amor maternal do coração de Maria, a partir
de uma vida consagrada ao serviço a Deus, por meio do acolhimento e do cuidado
às crianças mais pobres, órfãs e abandonadas.
Nome de origem romana, Cecília pode
assumir o significado de cega, mas também de sábia. Santa Cecília foi
martirizada no século II e antes de morrer, cantou delicadamente a Deus. Madre
Cecília do Coração de Maria teve a nobre coragem de fazer de sua vida um canto
agradável a Deus, ajudando, com sabedoria, a sociedade a enxergar a
centralidade das dimensões do cuidado, do acolhimento e do amor para com as
crianças. O seu derradeiro nome de missão foi revelado justamente pelas
próprias crianças, que carinhosamente a chamavam de Mamãe Cecília.
A herança espiritual de Madre Cecília se faz presente pelas ruas da cidade de Piracicaba. A casa onde ela viveu, o prédio que hoje abriga o Lar Escola, a presença afetiva e terna das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria são sinais visíveis da mais profunda esperança, de uma missão que permanece viva e atual no tempo. Enquanto houver uma criança abandonada, carente de todas as oportunidades, o Coração de Maria, na dedicação cotidiana de cada Irmã Franciscana, estará aberto e pronto a acolher, cuidar e amar. Que Mamãe Cecília inspire a construção de uma sociedade justa e solidária, onde todas as crianças possam estar acolhidas e cuidadas em um lar, sendo educadas para uma vida cheia de possibilidades no amor e para a transformação de um mundo que se revele equânime e sustentável.
Artigo assinado pelo Professor Adelino
Francisco de Oliveira.
Doutor
em Filosofia. Mestre em Ciências da Religião.
Professor
no Instituto Federal, campus Piracicaba.
@Prof_Adelino_
professor_adelino