Foto: Rafael Henrique/Ishoot/Estadão Conteúdo
Estudos preliminares feitos por pesquisadores da Tailândia e dos Estados Unidos apontam resposta imunológica marcante após aplicação da segunda dose do imunizante produzido em SP.
A Butanvac, primeira vacina contra a COVID-19 com produção integral no Instituto Butantan, é segura e altamente imunogênica. É o que aponta um artigo publicado na plataforma de preprints MedRxiv, na última quarta-feira (22), com base em estudos preliminares descritos por pesquisadores da Universidade Mahidol, de Bangkok, na Tailândia, da Icahn School of Medicine do Hospital Mount Sinai, de Nova York, e da Universidade do Texas, em Austin, ambas dos Estados Unidos.
O imunizante, que é chamado internacionalmente de NDV-HXP-S, é testado no Vietnã, na Tailândia e no Brasil. De acordo com o estudo, todas as formulações da vacina foram bem toleradas nos voluntários que tomaram duas doses com intervalo de 28 dias. O estudo contou com a participação de 210 voluntários, sendo 82 homens e 128 mulheres com idades entre 18 e 59 anos.
Foram registrados efeitos adversos em menos de um terço dos participantes, sem nenhuma ocorrência grave. Os sintomas mais frequentes foram dor e sensibilidade (mais comuns aos que receberam maior dosagem), além de fadiga, cefaleia e mialgia.
A fase 1 do ensaio clínico atestou a segurança da vacina e a seleção da dosagem que desperta a melhor resposta no organismo. Os cientistas constataram uma resposta imunológica marcante duas semanas após a aplicação da segunda dose da vacina.
Os testes envolvendo voluntários tiveram diferentes dosagens para avaliar a capacidade de proteção do novo imunizante produzido no Instituto Butantan. Aqueles que receberam a dosagem de um micrograma tiveram concentração média de imunoglobulinas IgG anti-S de 151,7 BAU/ml (unidades de anticorpos de ligação por mililitro).
De forma similar, 14 dias depois da segunda dose, as concentrações de NT50 (título neutralizante a 50%) foram consideráveis. Com base nos resultados do estudo, duas formulações foram selecionadas e devem ser avaliadas na próxima etapa do ensaio clínico, a fase 2.
“A vacina inativada tem um perfil de segurança aceitável e é altamente imunogênica. Esta vacina pode ser produzida a baixo custo em qualquer instalação projetada para a produção da vacina inativada do vírus da influenza”, explicam os autores do artigo.
*Testes no Brasil*
No Brasil, os ensaios clínicos da Butanvac também já estão em andamento. A etapa A da fase 1 está sendo realizada em Ribeirão Preto, Guaxupé (MG), São Sebastião do Paraíso (MG) e Itamogi (MG). Os trabalhos são conduzidos pelo Instituto Butantan, com apoio do Governo de São Paulo.
Para participar, é preciso ter mais de 18 anos, nunca ter tido COVID-19, não ter sido vacinado contra o SARS-CoV-2, não ser alérgico a ovos e frango e não estar grávida ou ser lactante. Na etapa B, poderão participar inclusive pessoas vacinadas ou que já tenham sido infectadas pelo SARS-CoV-2.
*Sobre a ButanVac*
A Butanvac é desenvolvida a partir da inoculação de um vírus modificado da doença de Newcastle que contém a proteína Spike do SARS-CoV-2 estabilizada. Como este vírus infecta aves e é inofensivo em humanos, ele replica muito bem em ovos embrionados de galinhas – mesma tecnologia da vacina contra a influenza (gripe).
Além de ser barata e muito disseminada, essa técnica é uma especialidade do Butantan: o instituto produz anualmente 80 milhões de vacinas da gripe usando ovos. A Butanvac é resultado de um consórcio internacional que envolve a organização PATH Center for Vaccine Innovation and Access, a Icahn School of Medicine no Mount Sinai em Nova York e a Universidade do Texas.