Foto: Guilherme Leite


Audiência pública na Câmara expôs dificuldades em torno do abastecimento de água e energia e de acesso na avenida Laranjal Paulista.

Audiência pública sobre o bairro Campestre aconteceu na tarde desta terça-feira (28)

Estimulado pela proposta de instalação de ciclofaixa como parte do projeto Nova Laranjal, da Administração Municipal, o debate em torno do bairro Campestre escancara problemas ainda mais urgentes e complexos, como ficou evidenciado em audiência pública, na tarde desta terça-feira (28), na Câmara Municipal de Piracicaba, convocada pelo requerimento 835/2021, de autoria dos vereadores André Bandeira (PSDB) e Ana Pavão (PL).

José Jair da Silva Mendes, morador do condomínio Bonne Vie, sintetizou as inúmeras demandas da população em um dossiê que apresenta tanto os problemas em torno do trânsito da avenida Laranjal Paulista, principal via de acesso do bairro, mas sobretudo detalhou questões em torno de novos empreendimentos aprovados na região, o que acentua as falhas constantes no abastecimento de energia elétrica e de água.

“Esse movimento envolvendo o poder público tem o objetivo de despertar uma estrutura que permita o desenvolvimento do bairro”, disse, ao pontuar que estão surgindo novos empreendimentos, como supermercado e condomínios, o que cria ainda mais riscos de acidentes no cruzamento da avenida com a rodovia Cornélio Pires. “Aquela área não comporta mais o fluxo de trânsito, o risco de acidente é muito grande”, destacou.

Ele relatou que, em uma reunião com o secretário de Governo, Carlos Beltrame, chegou a ser cogitada a mudança da rotatória, “de uma forma que não houvesse o congestionamento”, disse, ao destacar a busca de soluções que sejam “ágeis”.

Representante de grupo de moradores denominado “Amigos do Bairro Campestre”, Mendes lembrou que, em dias de chuva, é comum a queda de energia. “Parece que uma solução razoável é a troca dos cabos de energia por um conjunto de cabos mais protegidos”, destacou, ao lembrar, que, também por conta das chuvas, existem pontos de alagamento. 

“Temos reclamações frequentes de falta de água, por conta da topografia, que apresenta pontos mais elevados”, destacou. Mendes também reclamou problema em torno da rede de esgoto, “que aparentemente não comporta a demanda”, disse, ao relatar ser comum vazamento de resíduos. “Houve momentos em que estava tentando fazer um churrasco no quintal, mas o cheiro é insuportável”, destacou, ao detalhar a dimensão do problema.

A preocupação do morador do Campestre é em torno do crescimento desordenado, em que pelo menos mais três condomínios de apartamentos irá demandar pelo menos mil veículos a mais circulando de manhã e tarde na avenida Laranjal Paulista. “Todo o espaço que antes era área rural, ocupado por sítios e chácaras, agora virou área residencial, onde se pagava Incra, agora paga IPTU, prejudicando muitos proprietários”, disse.

Mendes foi taxativo em torno da urgência das ações para amenizar a situação urbanística do bairro: “Se não tiver mudança, certamente o bairro vai entrar em colapso.” 

Outros moradores do bairro não apenas endossaram o dossiê apresentado por Jair Mendes, como trouxeram novas demandas, como na área da segurança. “Nós chegamos a cogitar uma implantação de base da Polícia Militar, mas como a estrutura demanda a presença fixa do policial no local, então entendo que é melhor ter mais efetivo policial na rua, trabalhando e trazendo mais segurança”, disse Jefferson Batista da Silva, representante da Associação dos Proprietários e Moradores do Parque dos Ipês.

Em relação ao trânsito na avenida Laranjal Paulista, Silva lembrou que há locais em que é possível ter alargamento, mas já outras partes que não, “mas nós temos que pensar no longo prazo, como ficará a via nos próximos anos, nós temos que pensar nas gerações futuras”, disse, ao defender a busca por alternativas de acesso.

Ex-secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Eliete Nunes também é moradora do bairro Campestre. Ela lembrou que em torno da ciclovia, “não se trata de ser contra”, pontuou, “mas sobre a forma como ela foi proposta”, disse, ao destacar que ciclistas são uma realidade naquela região. “Eu acredito que a Administração atual vai se debruçar para buscar uma ação conjunta com os moradores”, disse.

Ela destacou o problema da falta de energia elétrica, que, por conta do aumento de pessoas trabalhando em home office, incluindo professores, e ainda alunos que dependem do acesso à internet para ter aulas, a situação tem se tornado bastante preocupante. “Precisamos ter mais investimentos”, enfatizou Eliete.

O advogado Paulo Fuzaro, também morador do Campestre, avaliou o problema do bairro como semelhante a outras regiões de Piracicaba. Ele rejeitou a proposta de instalação de um semáforo no cruzamento entre a avenida Laranjal Paulista e a rodovia Cornélio Pires, “o problema lá são os horários de pico e isso vai ficar 24h lá, o que vai descontentar muito mais do que vai alegrar”, disse, ao sugerir rotas paralelas de acesso.

Professor e jornalista, Marcelo Bongagna é assessor do vereador Pedro Kawai (PSDB), mas também mora na região, no condomínio Quinta de Santa Helena, localizado alguns quilômetros depois do término da avenida Laranjal Paulista. “Nós temos três deputados estaduais, então devemos buscar com eles emendas e inclusão no programa Mais Caminhos, do Governo do Estado, para pavimentar estradas de terra”, disse, ao salientar que essas vias podem se configurar alternativas de acesso ao bairro Campestre.

VEREADORES PEDEM PRAZO PARA MELHORIAS - “Nós temos que ter um prazo, um termo de ajuste de conduta, para que as coisas saiam do papel e venham para a prática”, defendeu o vereador André Bandeira (PSDB), coautor do requerimento que convocou a audiência, ao destacar que a urgência da situação do Campestre, sobretudo por conta dos perigos de acidentes no cruzamento da avenida Laranjal Paulista e Rodovia Cornélio Pires, pedem medidas eficazes e rápidas do poder público para atender a população do bairro.

“Nós sabemos que tem novos condomínios e, ainda, um novo supermercado que vai ser instalado no bairro. Não sou contra o desenvolvimento, mas isso precisa ser organizado”, disse, ao lembrar que na entrada do Campestre, onde tem uma escola de futebol, “está cheio de placas de construtoras, são vários os empreendimentos que estão ali”, informou.

Na mesma linha de atuação, a vereadora Ana Pavão (PL), também coautora do requerimento da audiência, destacou que é preciso olhar para frente em torno das soluções. “O problema está aqui, não interessa quem deixou, o ponto é que estamos aqui dispostos a resolvê-los, não quero ficar olhando no retrovisor”, destacou.

A parlamentar também cobrou maior agilidade da representante da CPFL Energia. “Nós, vereadores, precisamos de um contato direto com a empresa, não adianta responder para a gente três ou quatro dias depois, quando o problema já foi resolvido”, disse, ao salientar que quer com a empresa a mesma liberdade que tem com secretários municipais.

Vice-presidente da Câmara, o vereador Acácio Godoy (PP) demonstrou alegria em torno da realização da audiência pública, enfatizando a participação dos moradores do bairro, “que trouxeram problemas e já trouxeram possíveis soluções”, destacou. O parlamentar destacou a necessidade de haver um calendário para que os órgãos públicos possam apresentar sobre o que podem fazer. “Existem as questões mais simples e outras mais complexas, mas importante o calendário para que as coisas não fiquem apenas em debate”, disse.

O vereador Fabricio Polezi (Patriota) reconheceu o esforço dos secretários municipais em responderem à Câmara, mas lembrou que o tempo do poder público é diferente do tempo da necessidade dos moradores. “Eu acredito que essa audiência pública está sendo encaminhada de forma excepcional para se encontrem soluções plausíveis”, disse.

“O mal da Democracia é o fato de que as coisas só acontecem quando são provocadas. Piracicaba só chegou desta forma, por falta de planejamento”, refletiu o vereador Gustavo Pompeo (Avante), ao criticar as administrações anteriores pelo crescimento desordenado do Município. “Em Santa Teresinha, é a mesma coisa, você tem problema de policiamento, de creche, de trânsito, de tudo, a cidade vai crescendo e não se pensa o que fazer”, disse.

O vereador Wagner Oliveira, o Wagnão (Cidadania), foi na mesma linha. “A gente vê que houve uma falta de planejamento no passado, não vejo um crescimento construtivo”, disse, ao se mostrar solidário aos secretários municipais. “Eu imagino a dificuldade que é, porque hoje a batata quente fica nas mãos dos senhores”, enfatizou.

“Eu gostaria de agradecer aos moradores do bairro Campestre, que fizeram essa mobilização tão importante”, disse o vereador Pedro Kawai (PSDB), ao ressaltar que as discussões entre os moradores já estão acontecendo desde o início do ano. Ele também enfatizou ter confiança na busca pelas soluções junto à Administração Municipal.

SECRETÁRIOS APRESENTAM PROPOSTAS - Motivada pela proposta de instalação de uma ciclovia na avenida Laranjal Paulista, o foco dos secretários municipais foi em torno da busca de soluções de trânsito. Jane Franco Oliveira, da Semuttran (Secretaria Municipal de Mobilidade, Trânsito e Transportes), detalhou que a instalação de um semáforo no cruzamento da via com a rodovia Cornélio Pires depende da concessionária Rodovia Colinas e da Artesp (Agência Reguladora do Transporte no Estado de São Paulo).

“Há uma avaliação por parte da administração não somente em torno da necessidade de semaforização, mas em relação a toda a extensão da avenida”, disse, ao enfatizar que, por enquanto, está suspensa a implantação da ciclofaixa. “Já havia um projeto consolidado, mas pela reclamação dos moradores e pela visão da secretaria em fazer melhorias no projeto, optamos segurar um pouco (a ciclovia) para implantar melhorias no local”, disse.

O secretário municipal de Obras, Paulo Ferreira da Silva, apresentou a proposta de tornar a avenida Laranjal Paulista mão única, no sentido Centro-Bairro, e oferecer saídas alternativas como “escape”, utilizando vias como a rua Cerquilho, rua Papa João Paulo II, estrada Olívio Franhani, rua Henrique Bego, entre outras possibilidades.

“Só queria dizer que o problema que nós estamos enfrentando hoje aqui, começou há 20 anos atrás, quando começaram a ser aprovados vários loteamento sem pedir qualquer contrapartida de benefício ao bairro, agora vemos o resultado”, disse.

Maria Beatriz Silotto Dias de Souza, do Ipplap (Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba), disse que o órgão está atuando junto com outras secretarias para buscar as melhores alternativas para a via de acesso do Campestre. “Aproveito a oportunidade para fazer um convite. Vai acontecer a sétima Conferência da Cidade, quando vão ser eleitos os membros da sociedade para o Conselho da Cidade, que é um organismo consultivo e deliberativo, sendo que toda a legislação urbanística passa por ele”, disse.

O presidente do Semae (Serviço Municipal de Água e Esgoto), Maurício Oliveira, disse que a situação do Campestre é “muito preocupante”, ao atribuir os problemas que hoje toda a região enfrenta ao crescimento desordenado. “Estamos estudando se os reservatórios disponíveis ao bairro são suficientes e se comportam a demanda”, disse, ao lembrar que as bombas já ficam ligadas por 24 horas, mas muitas vezes não existe água suficiente para a região, porque também precisa atender os moradores do bairro Paulicéia. “Os investimentos são necessários, mas o Semae hoje está quebrado, não tem condições de fazer esse aporte”, disse, ao salientar que a autarquia depende de busca de financiamento.

CPFL ENERGIA - A audiência pública também contou com a participação de representantes da CPFL. Talita Pinotti, da área de relacionamento da empresa, destacou o programa Guardião da Vida, assim como as orientações em torno dos riscos elétricos que a população enfrenta. Ela exibiu um vídeo em que orienta a população a, entre outras coisas, não fazer podas de árvores, com o risco de sofrer choques elétricos da rede.

Representante da área de operações da empresa, Manoel Rezende destacou algumas das ações voltadas à agilidade de restabelecimento de energia em casos como de acidentes de trânsito que atingem postes de eletricidade, assim como salientou a busca por investimentos no setor para atender a região do bairro Campestre. “Eu gostaria de ressaltar que, durante toda a pandemia, a CPFL não parou de investir”, destacou.

Deixe seu Comentário