Foto: Cláudio Franchi/ Studio A MKT Digital/ Rádio Metropolitana de Piracicaba
As redes sociais e os meios de
comunicação, nesta semana, foram inundados com estarrecedoras imagens de 4 mil
diretores de escolas da rede estadual de ensino aglomerados em um centro de
convenções na cidade de Serra Negra, sem distanciamento social e sem qualquer
tipo de controle ou protocolo sanitário. O local não dispõe de ventilação
natural e não tem janelas.
O encontro presencial,
realizado em plena pandemia, foi uma iniciativa do secretário estadual da
Educação, Rossieli Sores, com o declarado propósito de “orientar” os diretores
na implementação do que o governo estadual chama de “novo” ensino médio. Na
realidade, correm fortes comentários de que o verdadeiro objetivo foi o de
produzir imagens a serem utilizadas na campanha eleitoral de 2022 e, para
tanto, uma claque foi estrategicamente acomodada para ovacionar o secretário,
enquanto a maioria dos diretores se mantinha indiferente.
Além de colocar em risco à saúde e à vida desses profissionais – tendo em vista que o Brasil ainda registra diariamente em torno de 500 óbitos por covid 19 – ficou evidente o caráter eleitoreiro do encontro, que se destinou também a “enquadrar” o conjunto dos diretores de escolas na aplicação da reforma do ensino médio e demais programas excludentes do governo Doria/Rossieli, como o Programa de Ensino Integral (PEI). Esses programas visam a produção grandes números que possam ser usados na propaganda eleitoral em 2022, pouco importando que prejudiquem estudantes trabalhadores ou que rebaixem a qualidade do ensino.
Os diretores ali presentes
foram convocados. Ausentar-se poderia significar represálias e, no caso dos
diretores designados (não efetivos), poderia custar-lhes a exoneração. O
secretário, portanto, continua usando seu poder para atentar contra a vida dos
profissionais da educação, como fez ao obrigar o trabalho presencial para
todos, mesmo os que não completaram o ciclo vacinal.
A pergunta que fica é: apesar
de toda a propagando do governo Doria, o que diferencia esse secretário de
todos os demais negacionistas? O que o diferencia da postura e atitudes do presidente
da República e demais integrantes do governo Bolsonaro em seu desdém pela
defesa da vida? Oxalá, que não aconteça, mas se parte desses diretores tiverem
se infectado nesse evento e levarem o vírus para suas famílias e para as
escolas, a responsabilidade por esse fato estará claramente colocada.
Por essa razão, e antevendo as lamentáveis cenas que estão sendo divulgadas, ingressei no Ministério Público antes de o encontro acontecer, para tentar evitar sua efetivação e para que as responsabilidades sejam devidamente apuradas. Fotos e vídeos que mostram aglomeração, falta de controle e inobservância de protocolos sanitários foram anexados à representação.
Não é possível que frente a tantas necessidades urgentes nas escolas estaduais, entre elas as medidas estruturais e emergenciais necessárias para a prevenção da disseminação do novo coronavírus, o secretário da Educação gaste um alto volume de recursos para autopromoção e para a imposição de programas educacionais que retiram dos estudantes o direito de acesso ao conhecimento e à formação integral e integrada de que necessitam.
Expresso, portanto, meu repúdio e o da APEOESP à essa iniciativa inoportuna e inadequada, e adianto que tomaremos todas as providências para que não passe impune.
Assina o Artigo: Professora Bebel, que é deputada
estadual pelo PT, presidenta da APEOESP
e líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.