Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana
Interessante
como algumas pessoas, profundamente iluminadas e inspiradas, conseguem enxergar
para além do seu momento histórico, oferecendo perspectivas de superação para
os dramas de seu tempo. Esse é o caso de Madre Cecília do Coração de Maria –
conhecida carinhosamente como Mamãe Cecília –, com sua sensibilidade para
interpretar os sinais dos tempos e apontar caminhos de esperança para o futuro,
em uma Igreja que se coloca sempre ao lado dos pobres.
O
Papa Francisco, com profunda leitura eclesial e social, tem colocado no centro
do debate pastoral a urgência de uma Igreja em saída, de uma Igreja capaz de se
renovar na dinâmica da missão. Essa é uma visão eclesial desafiadora, que busca
reconectar a Igreja Católica com a realidade mais cotidiana do povo. É a
representação de uma Igreja profética, que sai do isolamento de seus templos,
de maneira a abrir mão de status e poder, e parte para encontrar o povo,
abraçando suas angústias e também suas alegrias mais verdadeiras.
Papa
Francisco não deixa de atualizar e aprofundar o grande chamado do Concílio
Vaticano II, explicitado nas palavras do Papa João XXIII ao dizer que abriria
às janelas da Igreja para que ela pudesse ver o que estava acontecendo no
mundo. Esse movimento de se aproximar das questões do mundo, abrindo diálogo
fraterno com os dramas da sociedade, já estava presente no compromisso missionário
de Mamãe Cecília.
Madre
Cecília quando pensou em se reunir com suas amigas, originando as bases da
primeira comunidade religiosa em Piracicaba, uma das missões fundamentais era
justamente acolher as crianças pobres e abandonadas, em uma perspectiva de uma
Igreja em saída, com coragem para se colocar totalmente a serviço dos mais
vulneráveis. Em uma espiritualidade ativa, Madre Cecília foi sempre muito
preocupada com a situação do outro, atenta às necessidades do próximo,
fazendo-se presente – e também presença de Deus – na realidade dos que mais
sofriam: presos, doentes, abandonados.
Uma
passagem histórica muito interessante, que não deixa de ilustrar a visão
missionária de uma Igreja em diálogo com o mundo, é a procissão que Madre
Cecília organizou para levar até a Igreja Matriz – hoje a Catedral de Santo
Antônio – a imagem do Sagrado Coração de Maria, que o Frei Luiz Maria de São
Tiago havia encomendado na Espanha. Madre Cecília trabalhou pastoralmente para
que os fiéis também pudessem participar dessa ritualidade festiva. Até hoje a
cidade de Piracicaba conta com duas imagens do Sagrado Coração de Maria
trazidas de além mar, de terras da Espanha, pelo Capuchinho Frei Luiz.
Esse
discernimento missionário de Mamãe Cecília contempla também uma profunda opção
preferencial pelos pobres, antecipando, com sua maneira de compreender a missão
religiosa, as conclusões das Conferências Episcopais de Medellín e Puebla. E
aqui está a atualidade do carisma da Congregação das Irmãs Franciscanas do
Coração de Maria, sendo presença e sinal de cuidado, proteção e esperança em
uma sociedade estruturalmente injusta, que sente a nostalgia de Deus.
Assina
o artigo Professor Adelino Francisco de Oliveira, Doutor em
Filosofia. Mestre em Ciências da Religião, Professor no Instituto Federal,
campus Piracicaba.
adelino.oliveira@ifsp.edu.br @Prof_Adelino_
professor_adelino