Momento de estiagem preocupa - Foto: Rafael Bitencourt
Especialistas
do “Corredor Caipira” apontam que queimadas podem influenciar problemas de
abastecimento e que vazão de rio influencia o humor das pessoas.
O baixo nível dos
mananciais durante o período de estiagem é motivo de muita preocupação. Na
região de Piracicaba (SP), o cenário atual aponta para a possibilidade de uma
crise hídrica em 2022 pior do que a registrada em 2014. Uma das questões
apontadas pelo projeto “Corredor Caipira – Conectando Paisagens e Pessoas” como
um agravante para problemas de abastecimento de água é a degradação das
florestas, especialmente num momento em que há um aumento de queimadas em áreas
de vegetação nativa.
“O solo sem vegetação
florestal tende a ficar menos permeável, a água tende a escorrer mais
superficialmente. Com isso, acontece a erosão e o assoreamento dos cursos de
água”, afirma o engenheiro florestal Germano Chagas, um dos coordenadores
técnicos do projeto.
“Consequentemente, diminui a capacidade de estoque de água para o abastecimento público, o que resulta nessas crises hídricas pelas quais temos passado atualmente”, explica Chagas.
Germano Chagas é um dos coordenadores técnicos do Corredor Caipira
O projeto “Corredor
Caipira – Conectando Paisagens e Pessoas” é realizado pelo Núcleo de Apoio à
Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental
(Nace-Pteca) da Esalq/USP e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz
(Fealq), com patrocínio da Petrobras.
Influenciando o humor
dos moradores
Além dos
problemas de abastecimento público, o baixo nível do rio que dá nome à
Piracicaba influencia o humor dos moradores da cidade. É o que aponta o
jornalista e produtor cultural Rafael Bitencourt, coordenador de comunicação do
“Corredor Caipira”.
“Piracicaba tem uma
relação muito forte com seu manancial, o que pode ser, inclusive, considerado
um fator essencial para a cultura local. Se a vazão do Rio Piracicaba é alta, o
morador local fica alegre. Mas se a vazão é baixa, como nesse momento de
estiagem, o piracicabano fica triste, cabisbaixo”, afirma.
“O tipo de relação que cada povo tem com o ambiente em que vive é uma construção cultural. E em Piracicaba, há uma construção cultural de intensa valorização de seu rio, que é considerado por pesquisadores a gênese da cidade em diferentes aspectos”, opina Bitencourt.
Crise hídrica pode ser impulsionada pela destruição das florestas - Foto: Rafael Bitencourt
Conservação e
restauração florestal
Iniciado no final de
2020, o projeto “Corredor Caipira – Conectando Paisagens e Pessoas” realiza
atividades de conservação e restauração florestal no interior paulista, em
território que abrange, diretamente, Piracicaba, São Pedro, Águas de São Pedro,
Santa Maria da Serra e Anhembi. Outros 13 municípios serão beneficiados
indiretamente: Avaré, Analândia, Bofete, Botucatu, Charqueada, Corumbataí,
Guareí, Ipeúna, Itatinga, Itirapina, Pardinho, Rio Claro e Torre de Pedra.
O objetivo da
iniciativa, que tem patrocínio da Petrobras, é implantar 45 hectares de
florestas e agroflorestas e formar corredores agroecológicos que conectam
importantes fragmentos florestais no estado de São Paulo.
Flora e fauna
Com relação às queimadas
da vegetação nativa, algo muito comum no período, Germano Chagas aponta que o
impacto do fogo pode ser considerado maior no que diz respeito às árvores
jovens que, muitas vezes, acabam não resistindo. “Com a morte das árvores
jovens hoje, nós não vamos ter árvores adultas no futuro. E com a morte das
árvores adultas atuais, a floresta tende a entrar em colapso por não ter esse
processo de sucessão florestal”, explica.
Quanto à fauna, além
das mortes de animais causadas pelo fogo, Chagas explica que a redução da
vegetação nativa diminui a oferta de alimentos e de abrigos e, com isso, as
populações de regiões queimadas precisam procurar outros locais para se
estabelecerem, o que pode gerar um novo problema.
“Muitas vezes, essa
migração resulta em conflito entre as populações de regiões não queimadas com
essas populações que estão fugindo do fogo. Então, traz toda uma interferência
na dinâmica das populações animais”, diz.
SERVIÇO
Saiba mais sobre o
projeto por meio das redes sociais: Facebook e Instagram (@corredorcaipira). O
site oficial é www.corredorcaipira.com.br