Foto: Davi Negri

Em oitiva realizada nesta quinta-feira, 21/10, na CPI do Semae, depoente relatou graves irregularidades no trabalho da Mirante na cidade.

Fernanda Monis, operadora de tratamento do Semae, revelou nesta quinta-feira, 21/10 – em oitiva da Comissão Parlamentar de Inquérito que na Câmara Municipal investiga irregularidades na autarquia – uma série de possíveis graves problemas referentes aos serviços prestados pela empresa “Mirante” desde sua contratação pela Prefeitura Municipal, em 2012, e ao não atendimento do que está previsto em contrato.

Uma das mais impactantes oitivas realizadas pela CPI do Semae até o momento, o depoimento de Fernanda Monis apontou um verdadeiro esquema de proteção e blindagem feita pela gestão anterior à “Mirante” em relação a um sem-fim de irregularidades praticadas pela empresa em Piracicaba – especialmente no que diz respeito ao tratamento do esgoto e a utilização da estrutura do Semae em benefício da “Mirante.”

Sobre problemas estruturais no tratamento de esgoto, Fernanda Monis afirmou que as irregularidades cometidas pela “Mirante” são muitas – e sua ocorrênciapassa pelo desmonte da fiscalização (que era feita pelo Semae) e chega até ao descarte, pela “Mirante”, de esgotosem tratamento nos ribeirões da cidade.    

Uso da máquina

“Quando veio a empresa privada, eles vieram com funcionários que não sabiam nada. Nós [do Semae] é que tivemos de ensinar eles (SIC). A gente passou a ter de treinar e ensinar”, revelou a depoente à CPI. Segundo ela, depois de aprenderem o serviço, esses funcionários iam trabalhar em outras cidades e novos funcionários eram enviados pela “Mirante” para Piracicabapara aprenderem também – e assim sucessivamente.

Além disso, Fernanda Monis denunciou também praticamente um esquema de trabalho que não atendia as necessidades de Piracicaba. “Os funcionários contratados pela ‘Mirante’ picavam o cartão aqui e iam trabalhar em Matão, em Holambra,” contou a depoente. “Não tinha funcionário suficiente para cuidar do esgoto. Creio que até hoje não tem”, revelou ela.

Fim da fiscalização

A depoente afirmou também que desde o início da PPP os funcionários que eram responsáveis pela fiscalização do esgoto e do trabalho da ‘Mirante’ sofrerem imensas dificuldades que acabaram por inviabilizar a fiscalização. “Ficamos dando murro em ponta de faca por 5 anos. Era um trabalho cansativo e estressante,” afirmou a depoente. 

“No último mandato do [Prefeito] Barjas, nesses 5 anos, a gente fiscalizou, mas a gente teve dificuldade de fiscalizar” – disse. “[No começo], demorou um ano e meio para fazermos um treinamento sobre como fiscalizar a ‘Mirante’. Ficamos na briga sobre como fiscalizar e cobrar o tratamento. Foium ano e meio de muita resistência!” – denunciou ela.

Esgoto devolvido sem tratamento

Dentre as irregularidades que estariam sendo praticadas pela ‘Mirante,’ a depoente apresentou a denúncia de que a empresa chegou a devolver o esgoto sem tratamento para os ribeirões. “Eles [Mirante] compraram uma bomba específica para jogar lodo no ribeirão do Piracicamirim. Fizemos a denúncia no MP. Não deu em nada” – disse a depoente.

Outra acusação feita apela depoente diz respeito à suposta economia de energia elétrica praticada pela ‘Mirante.’ A depoente revelou que a empresa afirmava ter reduzido o gasto com a energia – apesar de o número de bombas de esgoto ter sido ampliado.  Segundo a depoente, tal fato chamou a atenção de alguns funcionários – que chegaram a verificar, por vezes, que a economia se dava porque a ‘Mirante’ desligava, à noite, as bombas de esgoto, devolvendo o esgoto sem tratamento. “Fizemos incertas várias vezes em casa de bombas e as bombas estavam desligadas! Eles desligavam as bombas de noite” – denunciou Monis.

Rubens Françoso

“Quando era só o Semae a gente não tinha problemas de extravasamento de esgoto.  Eu vivi isso e não existia” – disse Fernanda Monis. De acordo com ela, desde que ex-presidente do Semae, Rubens Françoso, assumiu o cargo o problema se estabeleceu na cidade. Nesse sentido, a depoente apontou que Françoso desmontou praticamente todo o esquema de fiscalização da “Mirante.”

“Rubens Françoso foi funcionário do grupo Aegéia por 12 anos. Aí ele virou presidente do Semae. Ele assumiu em janeiro, numa semana, na outra ele marcou uma reunião com a gente, lá. Ele falou que ia destituir a equipe de fiscalização (que já eram de 5 pessoas). No ‘Bela Vista’ nunca colocaram [fiscais]. Só teve no Pisca, com muita resistência, e na Ponte do Caixão” – apontou ela. “Vou destituir vocês porque não preciso mais que se fiscalize a ‘Águas do Mirante,’ disse Françoso aos fiscais segundo a depoente.

Responsabilidade da gestão anterior

“Foram muitas as irregularidades [da Mirante],” apontou também a depoente. “É muito triste, mas é a realidade”, lastimou. “Não sei se eles [a Prefeitura, gestão anterior] deramuma multa à Mirante! E a Mirante não cumpria o contrato”, afirmou ainda. “Éramos [os fiscais] na verdade 5 idiotas, 5 palhaços”, declarou. “Hoje, praticamente não tem mais fiscalização” – afirmou a depoente que, por fim, ainda definiu que a atual crise do Semae é fruto do que chamou de um desgoverno de 20 anos na cidade.

Edvaldo Brito

Ao final das atividades da CPI desta quinta, dentre outros nomes a Comissão resolveu chamar Edvaldo Brito (Avante) para dar o seu depoimento à CPI.  

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