Seminário "Conversa entre Nós", promovido pelo vereador Gustavo Pompeo (Avante) trouxe relatos de pessoas surdas que pedem mais fluência em libras por parte da população, agradecimento especial ao Sr. Douglas Ambrosano, assessor do vereador Gustavo Pompeo -  Na foto Gustavo Pompeo, Jornalista Danilo Telles e o Assesor Douglas Ambrosano - Foto: Assessoria Parlamentar


Abertura do Seminário "Conversa entre nós"

Foi realizado nesta sexta-feira (22), no Salão Nobre "Helly de Campos Melges" da Câmara Municipal de Piracicaba, o "I Seminário - Conversa Entre Nós", que abordou principalmente os desafios e as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência e a necessidade da inclusão dessas pessoas na sociedade. O evento foi promovido pelo vereador Gustavo Pompeo (Avante).

A primeira apresentação foi do assessor especial de gestão pública da Secretaria Municipal de Esportes e Atividades Motoras (Selam) e também educador físico da Associação de Atendimento à Pessoa com Deficiência Visual de Piracicaba (Avistar), Eduardo Azzini. Ele falou sobre a importância de todos nós termos o pensamento inclusivo e trouxe vários exemplos de atletas com deficiência que superaram dificuldades e conseguiram êxito na prática esportiva escolhida.  

"Todos nós precisamos começar a pensar de forma inclusiva. Se eu tenho uma aula de educação física, essa aula precisa abraçar todas as pessoas. Tenho como obrigação trazer o foco para potência das pessoas e também proporcionar oportunidade para que elas descubram essa potencia", afirmou. 


Vereador Gustavo Pompeo concedeu entrevista ao vivo para o jornalista Danilo Telles da Rádio Metropolitana - Foto: Assessoria Parlamentar

Na sequência, a militante da causa surda, jornalista e idealizadora de projetos voltados à saúde auditiva e acessibilidade, Raquel Moreno, ministrou sua primeira palestra em libras. Ao iniciar a sua fala, ela fez sua áudiodescrição para as pessoas cegas ou com deficiência visual. "Sou uma pessoa implantada, de pele branca, cabelos curtos na cor preta, uso óculos, camiseta com "Caminhoneiros Surdos do Brasil" e jaqueta verde limão", falou.

Ela prosseguiu comentando sobre os rótulos que a sociedade cria nas pessoas. "Criam muitas caixas, cada uma com especificidades diferentes. Mas ao me verem, ninguém consegue me enxergar como surda. Precisamos acabar com isso, eu quero mostrar minha identidade. Eu posso falar normalmente, mas quero falar em libras porque é essa minha identidade surda", disse. Raquel acrescentou que defende o projeto "Caminhoneiro surdos Brasil", para que todos os caminhoneiros possam tirar carteira de habilitação profissional.


Foto: Fabrice Desmonts

O próximo a palestrar foi vereador André Bandeira (PSDB), um dos idealizadores do Fórum da Pessoa com Deficiência. Ele citou algumas conquistas, desde o seu primeiro mandato, que teve início em 2005. "Nós temos os interpretes de libras nas reuniões ordinárias, audiências e outros eventos por uma resolução minha, de tempos atrás. De quando foi aprovada até ser colocada em prática, demorou alguns anos, mas aconteceu. Em 2005, nesta Casa, não tinha rampa de acesso ao plenário, no salão nobre, e hoje temos. Isso não é só fruto do meu trabalhado, mas eu estando na Câmara, motivou a iniciativa de muitos vereadores também", afirmou.

Em seguida, Thaluana Nova falou sobre "desinclusão". "É quando as pessoas não te veem. O que acontece hoje é que vocês me enxergam como uma pessoa normal, mas parece que eu vivo em outro planeta porque, para mim, falta acessibilidade pela língua de sinais. Eu me sinto esquecida", afirmou.

Ela disse também que já se sentiu sozinha várias vezes. "Quando criança eu perguntava e diziam depois eu falo, quando for maior você entende. Resumiam e eu não quero resumos, quero saber tudo, mesmo que a conversa tenha sido longa", disse.

Para ela, libras é uma forma de comunicação que toda a população deveria saber. Ela citou  como exemplo a dificuldade de surdos e pessoas com deficiência auditiva em consultas médicas, sem intérpretes de libras. "Não podem dizer o que sentem e o profissional pode fazer um diagnóstico errado", afirmou.

Para encerrar, foi a vez da atual diretora de políticas públicas da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Priscila Gaspar, fazer sua apresentação. Priscila é a primeira surda a ocupar um cargo no alto escalão do Governo Federal. 


Foto: Fabrice Desmonts

Ela iniciou dizendo que "não é a pessoa que tem que pedir para ser incluída". "Nós temos leis que dizem que nós somos iguais, todos merecem acesso aos mais diversos espaços e informações de acordo com as especificidades de cada um", disse. Ela apresentou algumas ações governamentais, como cartilhas inclusivas para pessoas com deficiência e doenças raras, que também foram incluídas no ministério porque provavelmente desenvolverão uma deficiência no futuro. 

Ela citou que muitas pessoas surdas com ou deficiência auditiva não tem onde reclamar ou relatar os problemas que enfrentam. "Nós sabemos que uma porcentagem muito pequena, um por cento das pessoas surdas tem domínio da língua portuguesa para fazer um e-mail com uma reclamação", afirmou.

Por este motivo, foi criado um canal e essas denúncias podem ser feitas pelo site da ouvidoria dos direitos humanos ou pelo aplicativo direitos humanos Brasil. "Nestes canais a denúncia pode ser feita em línguas de sinais, ou chat e ainda, se preferir, pode fazer por escrito. Divulguem para as pessoas surdas ou deficientes auditivos para que façam as denúncias, utilizem esse serviço", disse.


Priscila Gaspar -  Foto: Fabrice Desmonts

Outro item citado por ela foi o cadastro inclusão. "É a unificação de todos sistemas de pessoas com deficiência que já existem no país, de todos os diferentes órgãos, para que possamos facilitar a vida de todos", finalizou

O vereador Gustavo Pompeo disse que o evento teve como objetivo fazer uma provocação. "Estamos felizes com o resultado, recebo muitas pessoas com deficiência no meu gabinete, quero trazer o foco para a inclusão, a Câmara é inclusiva, mas sempre podemos fazer mais. Vamos ver o que mais podemos agregar para a nossa cidade e estar sempre em sintonia com Brasília para isso", afirmou. 

O promotor de Justiça, Luiz Sérgio Hulle Catani, participou do seminário e fez parte da mesa diretora dos trabalhos. Ele aproveitou a oportunidade para pedir que as pessoas com deficiência também encaminhem suas denúncias ao Ministério Público. 

Todo o evento contou com a tradução de libras de Thiago Laubstain e Maurício Gut, pela Câmara Municipal, e também de Sérgio Nogueira, que acompanhou a palestrante Priscila Gaspar. Ao final do evento o vereador entregou certificado para todos os participantes.



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