Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana de Piracicaba
Na história do século 20 há
muitas fotos simbólicas, emblemáticas da violência, da destruição, da barbárie.
Gostaria de falar sobre duas dessas fotos: a primeira foi tirada no dia 10 de
maio de 1933, quando os nazistas fizeram uma grande fogueira com livros que
eles julgavam inadequados, perigosos. A queima de livros se estendeu até o dia
21 de junho. A segunda foto foi feita em Londres, 1940, depois de um bombardeio
que destruiu uma biblioteca. Nessa foto, ao lado da destruição do teto, das
paredes, algumas prateleiras ficaram intactas e três homens buscam livros.
Alberto Manguel, escritor argentino, nos explica que esses homens estão
buscando nas ruínas, ”no reconhecimento surpreendente que a leitura às vezes concede,
uma compreensão”.
A história das bibliotecas é
pontuada por destruição, mas também pela resistência, pela reconstrução. O
apreço pelos livros não é gesto inato, mas depende da construção de um processo
cultural que a sociedade deve promover, que o poder público tem o dever de
resguardar. Fiquei indignada quando ouvi outro dia, na rádio Educativa FM de
Piracicaba (isto mesmo, na rádio Educativa!) a entrevista do sub-secretário
municipal da saúde de nossa cidade que, buscando argumentos para embasar o
despejo da Biblioteca Pública Municipal “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto” –
despejo do prédio que foi feito com a finalidade de ser biblioteca –, o
referido senhor disse, sem ficar envergonhado: “a biblioteca é um elefante
branco, ninguém a frequenta, ninguém vai consultar a Barsa”. Parece que o sub-secretário
não é frequentador de bibliotecas e a única visão que ele tem de livros é dos
volumes da “Barsa” em uma prateleira. Demonstra não entender o que significa um
acervo e uma biblioteca pública – que só lhe aparece como um elefante branco,
um estorvo que precisa ser desmontado, destruído.
Em 29 de outubro de 2010, a
Biblioteca Pública Municipal de Piracicaba ganhou definitivamente – espero que
sim – o atual prédio onde está instalada. Foi uma conquista depois de 71 anos
de existência! Nesse dia, fiz questão de levar os alunos do curso de Letras
Língua Portuguesa da Unimep para prestigiarem o importante evento. Foi uma
grande festa cultural na qual o povo pode conhecer o espaço apropriado para
guardar os livros – e, nesse dia, foram honrados grandes guardiões de livros de
Piracicaba, como João Chiarini e Hugo Pedro Carradore.
Neil Gaiman disse que “as
bibliotecas são a linha tênue entre a civilização e a barbárie”. O poder
público que não preserva bibliotecas a educação e a cultura toma como método
administrativo a barbárie. Será que vamos celebrar a barbárie na cultura
piracicabana enchendo uma caçamba de lixo com o acervo da biblioteca?
Josiane
Maria de Souza é doutora em Teoria Literária pela Universidade de Estadual de
Campinas – Unicamp. Foi coordenadora do curso de Letras da Universidade
Metodista de Piracicaba.