Foto: Cláudio Franchi/ Rádio Metropolitana/ Studio A

A vida de uma grande metrópole não pode se ver apartada de imensos esforços – públicos e privados – capazes de fazer com que seus cidadãos e cidadãs sintam-se integrados e integradas a um ambiente cultural que os instigue e estimule a aprender, a conhecer, a fruir e (por que não dizer) a fazer arte em suas mais que variadas linguagens. Metrópoles “pensam” grande – e por pensarem assim precisam defender com vontade e vigor ações que resguardem seu patrimônio artístico-cultural, que preservem seus bens culturais materiais e imateriais e que protejam a população da vileza de ataques sórdidos contra tudo o que se relaciona ao conhecimento, ao saber, ao estudo e ao pensar.

Nesse sentido, um rápido olhar pelo mundo (e mesmo pelo nosso país) nos dará uma gama farta de exemplo nos quais a preocupação com a tradição cultural está estampada na qualidade da manutenção e zelo para com as construções que abrigam a arte e o conhecimento. Em se tratando especificamente de bibliotecas, infindáveis são os exemplos que poderíamos citar como louváveis no que diz respeito ao entendimento de que as bibliotecas são catedrais de conhecimento que precisam (precisam!) ser mantidas e preservadas.

A Biblioteca do Congresso de Washington, no Estado Unidos – por exemplo –, considerada a maior biblioteca do mundo na atualidade, guarda hoje em seu acervo nada menos do que a impressionante marca de 155 milhões de itens! Por sua vez, fundada em 1852 (e preservada ao longo da história pelos sucessivos governos americanos!), a biblioteca de George Peabody – Baltimore – possui mais de 300 mil volumes que datam (pasme-se) só do século XIX! Além disso, e como se pode comprovar numa pesquisa rápida pela web, a beleza exuberando dessa biblioteca não atrai só leitores, mas também outras pessoas que usam o espaço para demais atividades culturais (e até para fotos de casamento!). Ainda nos Estados Unidos – onde não faltam pessoas conectadas à rede mundial de computadores, laptops, tablets e celulares de última geração –, como não citar a biblioteca de Nova York, com seus mais de 20 milhões de livros que, ora vejam, convivem harmonicamente com o wifi grátis liberado aos visitantes.

O que dizer, então, das maravilhosas e centenárias bibliotecas espanholas, portuguesas, argentinas, chilenas, colombianas, uruguaias e, sim, brasileiras! – com a nossa Mário de Andrade, em São Paulo. Poderíamos citar aqui um sem-fim de instituições e suas bibliotecas que – em comunhão com a vida tecnológica – oferecem a seus frequentadores não apenas livros para empréstimos, mas vida, conhecimento e inteligência. Ora, e nessa trilha, exultemos de alegria no dia de hoje, em que celebramos os 11 anos da inauguração do prédio de nossa querida Biblioteca Pública Municipal “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto” – a qual, após mais de setenta anos de vida itinerante pela cidade (repita-se: após mais de setenta anos sem prédio fixo), ganhou casa própria no feliz dia de 29 de outubro de 2010.

Instalada em local muito bonito e de fácil acesso, tomando praticamente o espaço de todo um quarteirão, a nossa biblioteca é – sim – uma catedral de livros (a nossa catedral!) e abriga um acervo com mais de 130 mil volumes! Para além dele, a biblioteca dispõe de hall de exposições, anfiteatro para eventos e palestras, sala de microfilmagem, sala com acervo de jornais antigos, sala para biblioteca em braile e ainda uma outra biblioteca dentro dela mesma: a Biblioteca Infantil “Thales Castanho de Andrade”. Pela nossa biblioteca, só no último mês de fevereiro passaram mais de mil pessoas (e isso ainda em pandemia!). No ano passado, mesmo estando fechada por alguns meses por conta também da pandemia, a nossa biblioteca fez mais de oito mil empréstimos (de acordo com dados oficiais oferecidos pela própria biblioteca)! 

Por isso, e nesta data tão importante para a área do livro e da leitura em Piracicaba, não vou aqui comentar as desastrosas e mentirosas afirmações feitas sobre a biblioteca por aqueles que deveriam defender esse patrimônio público mas, ao contrário, esforçam-se para desmontá-la, para desativá-la, para (novamente!) transferi-la de local – privando a cidade e seus cidadãos de mais uma emblemática instituição cultural. Não! Não falemos deles. Afinal, não é possível que uma cidade que quer ser uma metrópole – que quer ser uma “águia” – pense e cogite agir como uma cidade perdida – como uma pobre galinha escapada de um galinheiro. Não. Não permitiremos que Piracicaba seja torne uma águia com cabeça de galinha. Não permitiremos que, na contramão do mundo civilizado, nossos gestores ousem nos lançar no tábula rasa do esquecimento, do apagamento e do desmonte de nossos patrimônios.

A Biblioteca Pública Municipal “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto”, a nossa biblioteca, tem casa própria e não precisa de outra - obrigada. Não precisamos de projetos ilusórios que nos vendem grandes e brilhosos empreendimentos a preço de nos roubar nossa tradição, nossos prédios e nosso patrimônio cultural. Não. Olhando para as metrópoles mundo afora e para suas bibliotecas (preservadas, mantidas, conservadas), dói saber que querem transformar o prédio de nossa biblioteca em posto de saúde – ora veja! Não.  Não pode ser. Essa não é, realmente, uma ideia de águia, uma ideia condizente com a de uma cidade que quer ser reconhecida como uma metrópole.

Temos a nossa biblioteca e por ela lutaremos sempre!

Viva a Biblioteca Pública Municipal de Piracicaba!

Rai de Almeida é vereadora.

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