Foto: Danilo Telles/ Rádio Metropolitana
Em algum momento,
quando você olha para as estrelas, não teria pensado que em alguma delas pode
haver um planeta semelhante a Terra, com alguém que também estará pensando em
você ? Existe no mundo atual questões tão fascinantes quanto a vida
extraterrestre ? É um tema que vem ganhando espaço cada vez maior desde o
célebre filme “A Guerra dos Mundos” baseado no livro do inglês H. G. Wells. O
assunto é um dos que mais abastece os cofres da cinematografia e atualmente é
tópico de pesquisa em todo o mundo. O que
outrora era uma possibilidade, aproximou-se da realidade a partir da descoberta
do primeiro exoplaneta ao redor da estrela 51 da constelação de Pégaso em 6 de abril
de 1995 por Michel Mayor e Didier Queloz da universidade de Genebra na Suiça.
Os primeiros foram planetas gigantes . Com a aprimoramento de
novas técnicas, instrumentos maiores e ultra-sensíveis em terra e no espaço, já
são mais de 6 mil os exoplanetas descobertos, desses cerca de 350 na zona
habitável isto é, nem perto e nem longe do astro central. No sistema solar isto
se situa entre a Terra e Marte. Em nossa
galáxia, a Via Láctea, existem aproximadamente 200 bilhões de estrelas e
já calcularam que existem ainda 50
bilhões de sistemas planetários a serem descobertos. Nesse raciocínio, é lícito pensar que, considerando uma média de 3 a 7
planetas para cada estrela, nossa galáxia contém mais planetas que estrelas ! Isso
nos lembra Giordano Bruno (1548-1600) e Camille Flammarion (1842-1925). O
primeiro com o livro “Acerca do Infinito do Universo e dos Mundos” e o segundo
com seu livro “A Pluralidade dos Mundos Habitados”. Giordano foi considerado
herege e queimado vivo pela Santa Inquisição. Flammarion rejeitado no inicio,
logrou grande êxito posteriormente. Ambos foram os grandes arautos da época que
estamos vivenciando. Sabemos hoje que a confirmação da vida extraterrestre é
pura questão de tempo.
Os exobiólogos já
chegaram a conclusão que a vida aflora onde as condições favorecem a existência
de água em estado líquido aliada a área continental e oceânica. Sabe-se contudo
que a matéria viva é extremamente complexa, resultado de reações químicas
combinando moléculas e flutuações estatisticamente improváveis. Isso mostra que
a eclosão da vida é um acidente raríssimo, uma singularidade estatística que se
caracteriza por suas propriedades fundamentais : nascem, crescem, alimentam-se,
reagem ao meio ambiente, reproduzem e morrem. Quando ela aflora,
está programada para morrer. E tudo
inserido na lei da evolução das espécies de Charles Darwin. A mais
poderosa fonte de informações para a vida extraterrestre são os
radiotelescópios em terra e aqueles colocados no espaço. Trabalhos nessa área
já foram premiados quatro vezes com o Prêmio Nobel. Os cientistas já chegaram a
conclusão que procurar transmissões de rádio inteligentes, elas deverão ser
feitas na freqüência natural do átomo de hidrogênio que é de 1420 megahertz uma
vez que ele é o elemento mais abundante no universo. Nessa área contamos com
uma rede de radiotelescópios no deserto de Atacama no Chile e na África do Sul. O primeiro compreende 66
antenas de 12 metros e o segundo com 87 antenas de 12-15 metros. Mas não é só.
Rádiotelescópios freqüentemente combinados através da técnica chamada
Rádiointerferometria de Longa Base, VLBI, se somam como se fossem uma só antena
gigantesca. Esse processo permite registrar imagens inéditas do nascimento de estrelas, planetas e estudar
e descobrir moléculas que se formam no espaço entre as estrelas em ondas
milimétricas e sub-milimétricas. Mas os investimentos não param por ai. Na área
do visível, o telescópio espacial Kepler está observando simultaneamente 100
mil estrelas ! Com lançamento previsto esse final de ano, o Telescópio Espacial
James Webb com espelho 2,5 maior que o Hubble, será capaz de descobrir
atmosferas em exoplanetas mais próximos.
A isso acrescenta-se a construção no deserto de Atacama, do “European
Extremely Large Telescope”, E-ELT, com incríveis 39,3 metros de diâmetro !
Capaz de ler a capa de um jornal na Lua, ele irá imagear exoplanetas
próximos e encontrar como Webb,
bioassinaturas em sua atmosfera numa tarefa muito difícil porque eles são
ofuscados pelo brilho de sua estrela mãe. Ao final, vemos que a ciência
astronômica nos mostra a existência de infinitos mundos que podem ser habitados.
Isso indica que somos um grão de poeira,
engrenagens microscópicas em um vasto universo
que existe há bilhões de anos antes do aparecimento do Sol, da Terra,
dos humanos e que ele seguirá adiante muito bem sem nós após o último suspiro.
Quando recebermos a tão aguardada mensagem : também estamos aqui, surgirá uma
nova era para a humanidade que irá deitar abaixo a crença milenar de que somos uma
civilização especial , donos da verdade e eleitos de Deus. Não somos criações
milagrosas destinadas a um universo de papelão. A maioria dos alicerces da
estrutura filosófica criada pelo homem e centrada unicamente em seu habitat,
irá ruir como os castelos de areia que as crianças constroem a beira mar. Esses
conhecimentos mudaram a forma de pensar
do homem moderno possibilitando assumir uma postura mais honesta e humilde
sobre sua origem e destino final. Que somos uma espécie transitória. Nada mais
que isso.
Nelson Travnik é astrônomo voluntário no Museu Aberto de
Astronomia de Campinas e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.
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Nelson Travnik, incansável amante de URÂNIA, não poderíamos ter entrevista melhor!
Parabéns Nelson, falou tudo!