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Ao menos no decorrer do mês de novembro a temática da educação para as relações étnico-raciais ganha maior espaço de debate e reflexão. As escolas se organizam para promover discussões e palestras abordando racismo e preconceitos. Semanas da consciência negra passam a ser organizadas em diversas instituições comprometidas com a formação. Mas esse movimento que pode ser esporádico revela-se insuficiente para enfrentar um assunto que deveria estar na pauta do país de maneira definitiva e cotidiana.

       A educação para as relações étnico-raciais ainda precisa avançar muito, tornando-se o centro de uma revolução cultural que o Brasil tem urgência que aconteça. A educação é o caminho para que uma outra humanidade desponte e emerja. Ninguém nasce racista ou cheio de preconceitos. Tais posturas, profundamente nefastas, são paulatinamente ensinadas, por meio de uma cultura que tende a naturalizar a formação ao ódio racista e à etnofobia.

       A construção ideológica de que o Brasil é uma democracia racial precisa ser denunciada e desmascarada. Essa talvez seja a primeira das grandes fakenews que tomaram o país, impedindo a elaboração de uma compreensão mais crítica e lúcida sobre a própria dinâmica das relações sociais, éticas e políticas. É preciso reconhecer, de maneira oficial e pública, que o Brasil é um país profundamente racista e tomado por toda sorte de preconceitos. Reconhecer o mal, a doença, é um passo fundamental para o processo histórico de reparação e reconstrução social.

       O racismo estrutural e institucional deve ser enfrentando por meio de políticas públicas, capazes de formatar uma nova configuração social, gerando uma outra sociabilidade, agora pautada na ética da alteridade, no reconhecimento da dignidade humana. O Brasil precisa reconhecer e resgatar a imensa dívida social histórica que tem com a população preta. Revelam-se fundamentais a implementação de políticas públicas que garantam equidade, representatividade e combatam o perverso processo de exclusão social.

       A educação para as relações étnico-raciais precisa trazer para a sala de aula e demais ambientes formativos o conhecimento profunda das dinâmicas culturais do fascinante continente africano. Conhecer a complexidade cultural de Mãe África é imprescindível para a superação de um pensamento colonizado. A maneira de pensar e conceber a vida; as narrativas míticas, com a riqueza simbólica da mitologia dos Orixás; o lugar e dignidade da ancestralidade; a produção de um conhecimento qualificado, base para a produção de avançadas tecnologias; a ética existencial que brota da força do conceito ubuntu; a postura diante do mistério da vida e da morte, em uma cosmovisão que integra humanidade e natureza. Dimensões invisibilizadas de uma África profunda, fonte de redenção para a humanidade.

       As pautas formativas sobre africanidades revelam-se fundamentais para a construção de uma consciência não fragmentada, capaz de apreender as raízes também africanas da identidade do povo brasileiro. A construção de um pensamento decolonial, crítico à estreita visão de mundo de uma branquitude alienada, e de uma cultura antirracista é a tarefa urgente e necessária para que o povo brasileiro se reencontre, em uma sociabilidade aberta, diversa e profundamente criativa.


Adelino Francisco de OliveiraDoutor em Filosofia, Mestre em Ciências da Religião, Professor no Instituto Federal, campus Piracicaba.

adelino.oliveira@ifsp.edu.br   @Prof_Adelino_   @professor_adelino

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