- Uma crônica de Lírico Monteiro
Ah,
Piracicaba, onde as águas do rio miram as urnas e os pré-candidatos já desfilam
suas ambições pelas ruas, muito antes da farra eleitoral oficial começar. Mas
em tempo em que para ficarmos parado temos que correr até que não incomoda esse
frenesi todo. É até divertido. Na terra do peixe grande, a política é um
aquário em que todos querem ser o tubarão, mas alguns não vão mais longe do que
carpas com retensões pneumáticas e enigmáticas.
Entre esses aspirantes a comandante da nau
piracicabana, destaca-se um certo candidato de fala mansa, que parece recitar
Camões ao conversar, mas seus olhos... ah, seus olhos não enganam, brilham com
a astúcia de um olhas de soslaio só à espreita das vítimas. Ele sussurra
promessas como quem conta segredos, mas é mestre na arte de esconder suas reais
intenções atrás de cada vírgula suavemente pronunciada.
E
falando em estratégias, alguns de nossos bravos competidores parecem ter
desenterrado o manual de campanha de algum bisavô político, achando que
palanques enferrujados e discursos mofados ainda são a chave para o coração do
eleitorado. Usar táticas do século passado? Isso sim é assinar o atestado de
morte política sem nem ao menos ter a decência de um velório digno.
Não
podemos esquecer dos famosos padrinhos eleitorais, aquelas figuras que prometem
fazer chover votos como quem faz chover no sertão. No início, são como faróis
guiando navios perdidos, mas cuidado, candidatos! Esses mesmos padrinhos podem
rapidamente se transformar em âncoras de chumbo, puxando para o fundo do rio
qualquer um que não saiba nadar em águas turbulentas.
E
aos que já batem no peito proclamando vitória antes mesmo de a batalha começar,
lembrem-se: toda maré alta tem seu refluxo, toda onda quebra na areia. Que a
pesquisa de hoje é o retrato de ontem. Que no teatro das eleições, o final pode
ser tão surpreendente quanto o ato de um mágico que, ao invés de coelho, tira
do chapéu um sapo que ainda canta ou uma carta furada.
Portanto, caros candidatos de
Piracicaba, enquanto caminham pelas ruas floridas da cidade, distribuindo
sorrisos e acenos, ponderem sobre a leveza dos passos. O chão de Piracicaba,
como o de qualquer lugar sujeito à lei da gravidade eleitoral, pode surpreender
os muito confiantes com uma boa e velha casca de banana política. E para os
eleitores, fica o espetáculo, sempre regado a um bom humor e uma pitada de
ceticismo, porque, afinal, em terra de políticos, quem tem voto é rei, pelo
menos até a próxima eleição.