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Entre os problemas apontados
por especialistas do projeto, estão o comprometimento da
cadeia alimentar, a possível
demora para recomposição de peixes e os problemas sociais.
Especialistas do projeto
“Corredor Caipira: Conectando Paisagens e Pessoas”, que é patrocinado pela
Petrobras, analisam a morte de toneladas de peixes no Rio Piracicaba e seus
afluentes nos últimos dias. De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (Cetesb), a mortandade foi causada por poluentes agroindustriais lançados
irregularmente em um ribeirão afluente do Rio Piracicaba.
O “Corredor Caipira” é
realizado pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) e pelo
Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação
Ambiental (Nace-Pteca) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade
de São Paulo (Esalq/USP). O patrocínio é da Petrobras, por meio do Programa
Petrobras Socioambiental.
No dia 7 de julho de 2024,
foram encontrados milhares de peixes mortos em um trecho urbano do importante
manancial. Dias depois, em 15 de julho, a situação chegou ao bairro do Tanquã,
considerado um minipantanal paulista.
O professor Flávio Gandara, da
Esalq/USP, e membro do “Corredor Caipira”, destaca o fato de a situação ter
ocorrido durante um longo período sem chuvas intensas, com baixa vazão do Rio
Piracicaba.
“Nessa época do ano, o nível
do rio é baixo, a vazão é pequena e, portanto, os poluentes que chegam ao rio
já ficam mais concentrados. Com esses períodos de temperaturas um pouco mais
elevadas, o que tem se tornado cada vez mais frequente durante o inverno,
aumenta a efetividade dos poluentes, principalmente da carga orgânica, que
causam um impacto ainda maior”, diz.
“Além dos contaminantes
químicos, substâncias tóxicas, você tem também uma perda da concentração de
oxigênio diluído na água, fazendo que haja mortalidade de peixes durante o
período de seca”, afirma Gandara.
Cadeia de animais prejudicada
O professor da Esalq/USP chama
a atenção ao fato de a mortandade ter chegado ao Tanquã, é extremamente grave,
já que afeta não apenas a fauna aquática, mas toda uma cadeia de animais que se
alimentam dos peixes.
“Existem já catalogadas 435
espécies de vertebrados lá, que inclui aves, répteis, mamíferos, anfíbios e
peixes. Só de aves, são 290 espécies, é uma das áreas mais ricas em aves que a
gente tem aqui no estado de São Paulo. E de peixes, 89 espécies, ou seja, é uma
área extremamente rica de aves e peixes. Então, há toda uma cadeia trófica que
depende desses peixes”, aponta Gandara.
Outra questão apontada é o
processo de decomposição. “Esses animais começam a se decompor, liberando
aquelas toxinas que os mataram e gerando mais outras no processo de putrefação.
Portanto, se esses animais não forem retirados urgentemente da área, o impacto
vai ser muito maior ainda na mortandade de outros animais daqui para frente”,
diz.
Impactos sociais
O membro do “Corredor Caipira”
aponta ainda os impactos sociais causados pelo desastre ambiental no Tanquã.
“Há toda uma comunidade que vive diretamente da pesca e também do turismo
ecológico e de observação de aves e animais. Quem vai querer visitar um lugar
onde há toneladas de peixe mortos? Certamente isso vai afetar severamente o
turismo ambiental naquela região. Isso é extremamente grave em termos sociais”,
lamenta o professor.
Conexão das águas
O engenheiro florestal e
consultor florestal do “Corredor Caipira”, Girlei Cunha, destaca a conexão do
rio e seus afluentes, e o impacto que pode ser gerado em longas distâncias em
situações como essa.
“É causado um impacto, lançado
um efluente e, quando vê, um rio inteiro foi afetado, praticamente. É
importante olharmos para a conexão entre os corpos da água e o impacto que pode
ter uma atividade distante, no caso, de 40 km do curso da água”, diz o engenheiro
florestal.
Cunha aponta que a mortandade
de peixes no Rio Piracicaba e afluentes deve ter reflexo nas populações futuras
de peixes. “Analistas ambientais da Cetesb afirmam que, para recuperar a
população que foi afetada agora, levará em torno de nove anos. Serão três
gerações, se não ocorrer mais nenhum tipo de evento como esse, para se
recuperar”.
Licenciamento ambiental
Outro aspecto destacado
pelo consultor florestal do “Corredor Caipira” é a importância do licenciamento
ambiental. “No Brasil, às vezes, a população reclama do licenciamento
ambiental, que é algo muito rígido, muito caro, que vai causar despesas. Mas
isso é fundamental. Imagina se não tivesse controle do licenciamento ambiental.
Quantos crimes ambientais como este a gente não assistiria ao longo do ano aqui
na nossa região”, aponta o membro do “Corredor Caipira”.
“Então, é fundamental ter o
licenciamento ambiental e ter a fiscalização ambiental sobre esse tipo de
atividade que tem o potencial poluidor. É só um exemplo do quão importante é
para a sociedade ter um sistema de licenciamento ambiental operante forte e um
sistema de fiscalização também”, completa.
Texto: Rafael Bitencourt
Publicação: Enzo Oliveira/ MTV