Foto: Divulgação | Prefeitura de São Pedro

A escritora e romancista são-pedrense faleceu em 1989, aos 82 anos, e deixou um acervo de 18 livros publicados, além de uma história de vida marcada pela coragem e pioneirismo.

Além do Dia das Crianças e da Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, o 12 de outubro de 2024 ficará marcado pela celebração dos 35 anos de despedida da escritora e romancista são-pedrense, Maria de Lourdes Teixeira. A escritora que, ao longo de sua trajetória, notabilizou também como jornalista, tradutora, ensaísta, colunista, crítica literária, biógrafa, correspondente internacional e conferencista em vários países do mundo, nasceu em 25 de março de 1907, no casarão do avô, esquina da rua Joaquim Teixeira de Toledo com a rua José Estanislau de Oliveira, e faleceu em 1989, aos 82 anos, junto ao seu filho, Rubens Scavone, e netos.  

A ilustre escritora foi filha de Avelino de Sousa Teixeira e Querubina Stela Rezende, além de bisneta, por parte de pai, de Antônio Teixeira de Barros, um dos fundadores de São Pedro. Por parte de mãe, descendente do Barão de Lorena e do Marquês de Valença, duas tradicionais famílias do tempo do Império. E é conhecida, também, por ser prima de Gustavo Teixeira, poeta maior de São Pedro.

A escritora Maria de Lourdes Teixeira deixou um acervo de 18 livros publicados, dois deles (O Pátio das Donzelas e Rua Augusta) contemplados com o Prêmio Jabuti, o mais importante e prestigiado prêmio literário do Brasil até os dias de hoje. O Pátio das Donzelas, inclusive, ganhou uma adaptação para telenovela, exibida pela TV Cultura, em 1982.

Além de conquistar o posto de uma das melhores romancistas do país, Maria de Lourdes Teixeira também foi considerada uma das mulheres mais cultas do Brasil em sua época e notabilizou, ainda, por ser a primeira mulher do país eleita, em 1969, para uma academia de letras, a Academia Paulista de Letras, onde ocupou a cadeira de número 12, recebendo inúmeros prêmios e incontáveis elogios da crítica literária da época. 

“Os escritores, artistas, jornalistas e intelectuais, de maneira geral, admiravam Maria de Lourdes por sua inteligência e sensibilidade", contou a professora são-pedrense Maria Aparecida Fracasse de Barros. “Neste 12 de outubro reverenciamos a memória dessa são-pedrense nata, da qual devemos nos orgulhar. Em sua obra literária tão diversa, jamais se esqueceu de São Pedro, com personagens que levaram o nome de pessoas de sua época. Isso não nos honra”? destaca a professora, coautora de um livro sobre a história de São Pedro, no qual dedica sete capítulos à vida e obra de Maria de Lourdes Teixeira.  

Para o coordenador de Cultura de São Pedro, Ivan Teixeira de Barros, Maria de Lourdes abriu caminho para diversas outras ilustres escritoras, que depois dela também ocuparam assento em academias literárias, como Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Ruth Guimarães e Zélia Gattai.

“Mais do que uma escritora, a Maria de Lourdes foi um divisor de águas na literatura nacional, pois se destacou em um ambiente predominantemente masculino. Sua importância excede a qualidade de sua escrita e reside também em seu papel de abrir as portas para futuras gerações de mulheres na literatura”, diz ele, que destaca também o Concurso de Contos “Maria de Lourdes Teixeira, promovido anualmente pela coordenadoria municipal a fim de destacar as obras e manter viva a memória da romancista são-pedrense.

À frente de seu tempo

O que nem todo mundo sabe é que, apesar de brilhante, a carreira literária de Maria de Lourdes Teixeira tinha tudo para dar errado, não apenas pelo ambiente machista e preconceituoso da época. Em seu primeiro casamento, com Hermelindo Scavone, ela foi proibida, durante os 20 anos de matrimônio, de publicar seus textos. Em seu livro de memórias (Carruagem Alada, página 53) a escritora relembra deste triste período: “(...) por imposição de meu marido, nunca mais publiquei uma linha sequer. Meu nome jamais deveria ser conhecido por qualquer trabalho meu. Eu deveria ser sempre e somente a senhora Hermelindo Scavone. Foi, em minha vida, um longuíssimo sofrer que não conseguiu anular-me, porque a literatura me amparou, foi meu arrimo, o meu pão de cada dia”. (Carruagem Alada, página 53)

Em 1944, pediu o desquite do marido, sofreu muito com a má reputação e preconceito atribuídos, na época, às mulheres separadas, no entanto, cinco anos depois, casou-se e foi morar em São Paulo, com o consagrado escritor e romancista, José Geraldo Vieira, com quem segundo ela, viveu “os 30 anos mais felizes de sua vida” (Carruagem Alada, página 53).

Além de romper com as regras estabelecidas da época, Maria de Lourdes também se notabilizou como uma vanguardista e progressista, com papel importante, também, no êxito do Movimento Modernista, que defendeu a ruptura das tradições e convenções estabelecidas, com padrões artísticos e culturais do passado, e estabeleceu uma arte brasileira mais conectada com os valores da cultura nacional.

Texto: Da redação

Publicação: Enzo Oliveira | MTV

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